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Amor de cão, de Marjorie Garber

Há  poucos anos li o livro Amor de Cão, de Marjorie Garber, e sempre me esqueço de escrever a respeito. Hoje, arrumando umas coisas, achei umas anotações. O livro é interessante, apesar de monótono em alguns capí­tulos.

Citar trechos de livros não é o objetivo deste blog, mas há certas partes da obra de Marjorie que nos fazem refletir profundamente e, por isso, tomo a liberdade de transcrevê-las aqui. Por exemplo, quando a autora se questiona de quem é a vida do cão, cita Laika, a famosa “astronauta”:

“Em novembro de 1957, Laika, uma cadela mestiça de tamanho médio, tornou-se a primeira criatura terrestre viva a viajar no espaço. Fotografias de sua cara sorridente em um arreio que parecia um capacete e da rede de fios que monitoravam suas respostas apareceram nos jornais do mundo todo e milhões de votos de felicidades acompanharam sua jornada na Sputinik 2. Logo ficou claro, no entanto, que ela não iria voltar.

Laika latiu, flutuou sem peso no espaço, comeu alimentos que tirava da máquina e, depois de uma semana, quando o ar da cabine se esgotou, morreu.”

Em outro momento, faz uma digressão histórica a respeito da responsabilidade penal canina, relatando-nos o seguinte e absurdo caso:

“Quatrocentos anos atrás, em 1595, na cidade de Leiden, um cachorro mordeu uma criança com tamanha gravidade que ela morreu. O cão foi condenado í  forca e seu corpo ‘arrastado numa carroça até o local do patí­bulo’ onde deveria ‘permanecer pendurado no cadafalso a fim de intimidar todos os outros cachorros’. A ata do tribunal garantia aos leitores que a condenação ‘originou-se da confissão do próprio prisioneiro, feita por ele sem o uso de tortura ou grilhões de ferro’.

O livro de Marjorie Garber tem partes bem curiosas. Em um de seus capí­tulos, explica que nosso envolvimento com os cães é basicamente cultural, o que significa que os porcos bem poderiam fazer as vezes dos peludos. E não duvide, porque eu mesma conheço quem tem uma porquinha tão inteligente como nossos cachorros – e tão carismática e adorável que se livrou definitivamente da panela.

A propósito, sobre os galgos, utilizados em corridas de competição nos EUA,  são, segundo o livro, bastante judiados; se não vencem, são maltratados e, como são marcados como gado, tem partes do corpo mutiladas para quando forem abandonados não terem suas origens identificadas.

O lado bom da coisa é que existem alguns grupos de resgate que se mantêm ocupados encontrando novos lares para os corredores abandonados e os cães que sequer conseguiram chegar í s pistas.

Outro ponto do livro que causa certa aversão é a que nos lembra que na China, Coréia e algumas outras localidades mundo afora, a carne de cão é bastante apreciada. O que é interessante é a fala de um local:

“Sim, ainda estamos comendo cachorros na China. Qual é o problema?, escreveu James Piao, que viveu nos EUA por sete anos, para o The New York Times. “A América foi um paí­s perfeito pra mim, exceto por uma coisa: eu sentia falta da carne de cachorro que tinha em casa”. Piao tinha curiosidade em saber porque os americanos, tão ávidos no consumo de carne bovina, estabeleciam uma diferença tão radical entre um animal e outro. “Uma espécie animal desfruta mais direitos do que outra?”, perguntava. ‘Não sinto vergonha de comer cachorro. Tenho uma cor de pele diferente. Falo uma lí­ngua diferente e venho de uma cultura diferente”.”

No Vietnã ainda comem carne de cachorro, considerado um animal inútil, de manutenção cara. De fato, num paí­s endurecido pela guerra e pela fome, o cão será o primeiro a ser sacrificado. Coréia e Filipinas também mantém fazendas de cães em territórios isolados.

É uma pena, mas os cães não são apenas cultuados ou degustados, mas também, em algumas partes do mundo, aviltados como sí­mbolos de tudo o que é sujo e degradante.

Finalizando, citei algumas partes do livro que me marcaram, mas a obra não é um poço de tragédias. Pelo contrário, como se pode verificar pelos links que adicionei, cita e explica aspectos fantásticos do relacionamento homem/animal, relata sobre a vida de cães célebres e mostra, acima de tudo, detalhadamente, como a existência destas criaturas pode nos fazer muito, mas muito mais felizes.

Recomendo a leitura.

O Poder das Emoções

Antes de ler Princesa, tinha lido O Poder das Emoções, do psiquiatra Galeno Procópio M. Alvarenga e sobre ele não poderia deixar de comentar.

O livro é bastante interessante e nos faz pensar em quanto a racionalidade humana é muito mais mito que realidade e que as emoções são as verdadeiras guias do cotidiano. A explicação sobre os neurotransmissores é bem legal e a gente acaba por entender melhor o que observa no dia-a-dia, por exemplo, como eles funcionam trazendo as boas sensações quando do dever cumprido.

Segundo o autor, “lançando mão das chatices da vida, você poderá receber sua quota de dopamina e noradrenalina. Assim, através desse alimento milagroso, fácil e barato, você irá domar e acalmar seu exigente organismo”. Ou seja, concretamente: “tome mais banhos frios, faça mais regime, enfrente tarefas duras e complicadas, procure outras e outras tarefas chatas e desagradáveis, tudo isso o tornará ‘feliz, bem feliz’…”

A explicação do psiquiatra para tais sugestões é a seguinte: ao iniciarmos a ação desagradável, como, por exemplo, ir ao banco pagar uma conta, o cérebro identifica e percebe que já estamos caminhando para pôr fim ao mal-estar proveniente do não pagamento. “Sentimos que os atos desagradáveis possivelmente irão terminar, pois estamos agindo conforme o roteiro estabelecido para isso”. E se o indiví­duo não realiza a ação desagradável, outros neurotransmissores, contrários í s ações tranquilizantes da dopamina ou noradrenalina serão produzidos, criando um desequilí­brio perturbador.

Enfim, o autor explica como funcionam os neurotransmissores, resumindo que a dopamina e a noradrenalina são os estimulantes de todos os seres vivos e devido a eles readaptamos todo o tempo o estado desarmônico do organismo (em razão de fatores internos ou extermos).

Bem, falei sobre um capí­tulo especí­fico; a obra aborda vários outros assuntos, valendo citar, a tí­tulo de ilustração, um trecho da contracapa:

“Por motivos históricos, nossa cultura endeusou a razão, deixando de lado a emoção; não sei o motivo de tanta antipatia. Muitas vezes deixamos de lado nossos preconceitos contra as emoções e, por instantes, elogiamos os que apreciam o belo, a arte, os amantes, os que sorriem ou sofrem. Portanto, convivemos, respeitamos e somos sensibilizados pelas emoções, mas, no fundo, as repudiamos, pois ocupam um lugar secundário em nossa vida. Essa idéia é errada.

Os indiví­duos que estão amando, tristes ou raivosos, não escolheram ou decidiram estar assim. As emoções ocorrem sem nossa vontade ou desejo. Elas são detonadas em virtude da ativação de circuitos e núcleos neurais…

Culturalmente, de um modo implí­cito, muitas vezes explí­cito, atacamos (com bastante raiva) a ira dos outros e, também, aplaudimos o amor da pessoa í  humanidade ou a um simples indiví­duo. Mas esta emoção produtora da ação – amar ao próximo – não foi escolhida, ela nos ocorre naturalmente.

O livro procura mostrar que frequentemente somos mais comandados por nossas emoções (irracionalidade: raiva, paixão) que pelas razões. Somos, por mais que acreditemos no oposto, mais idiotas que inteligentes…”

É isso aí­: gostei bastante do livro. Vale para quem deseja conhecer um pouquinho de como as emoções atuam no pensamento e na avaliação do comportamento humano, numa linguagem acessí­vel para leigos como eu.

Princesa, de Jean P. Sasson

Que as mulheres sempre foram e são alvo de toda sorte de preconceito sexual pelo mundo afora ninguém duvida, mas a condição a elas imposta pelo mundo árabe é perversa.

Um livro bacana pra quem tem interesse pelo assunto é o Princesa, de Jean P. Sasson, que retrata a vida de uma princesa da Casa Real Saudita. Nem preciso dizer que o texto é recheado de violência contra a mulher. O que espanta é a violência sexual, aceita como natural para a população masculina, inclusive cometida contra crianças menores de 10 anos.

A crí­tica religiosa encontra suporte no personagem Hadi. O mais hipócrita é também o mais beato (ou santarrão nos dizeres da autora), cujo cinismo enojante é protegido pela capa da religião.

Enfim, é bem interessante conhecer alguns hábitos e crenças do Islã, mas o grande mote do livro é descortinar ao mundo os atos de covardia praticados contra aquelas que são, na verdade, escravas de homens de Deus.

Leia entrevista da autora.

Boa literatura e cinema: poucas chances de fracasso

A propósito, o ator que interpreta Caspian (Crônicas de Nárnia) será o personagem Dorian Gray na nova adaptação da obra escrita por Oscar Wilde – O retrato de Dorian Gray. Este livro é tão bacana que eu já conto os minutos para ver o filme.

Também aguardo com ansiedade os filmes Paixão índia, Cidade do Sol e, como não poderia deixar de ser, a refilmagem de Duna, uma obra prima da literatura.

Crônicas de Nárnia 2 – O Príncipe Caspian

Vimos ontem, no Diamond Mall, “O Prí­ncipe Caspian”. Adoramos.

Quando do primeiro filme, Ele me deu “As Crônicas de Nárnia”, que li rapidinho. Fiquei encantada com as histórias, com a imaginação do autor, com a beleza dos personagens; enfim, com tudo. Senti por não ter conhecido a obra bem antes, quando era criança e a fantasia fazia ainda mais parte do meu dia-a-dia.

Pois é, C.S. Lewis publicou o “O Leão, A Feiticeira e o Guarda-roupa” em 1950. Depois se interessou em escrever outras crônicas que explicariam a origem do mundo de Nárnia. Ou seja, a ordem de publicação na coletânea é diferente da ordem em que as crônicas foram redigidas. Os filmes, por tudo o que indica, obedecerão a ordem em que as crônicas foram escritas pelo autor, que, após escrever “O Leão, A Feiticeira e o Guarda-roupa”, escreveu, em sequência, “O Prí­ncipe Caspian” e “A Viagem do Peregrino da Alvorada”, que estará em cartaz em 2010.

Apesar do alto conteúdo cristão dos escritos de C.S.Lewis, a obra não se prende a demonstrá-lo de maneira explí­cita, o que a torna ainda mais primorosa a meu sentir. Pois que Nárnia pode ser, sim, exclusivamente, um mundo de fantasia a povoar a cabeça de adultos e crianças e não um evangelho fantástico. E quem quiser que assim o seja, tudo bem.

 

Bebês para queimar

Causa muito espanto o artigo escrito por Carlos Heitor Cony sobre o livro ‘Babies for burning”, de dois jornalistas ingleses que pesquisaram a indústria do aborto em Londres. Quando me falaram a respeito, confesso que achei fosse mais uma pulha virtual, mas, infelizmente, a coisa procede. Muito triste.

Leia o artigo na í­ntegra.

A cidade do sol – nota máxima

Não gosto de filmes violentos, não gosto de literatura violenta. Não acho que devemos procurar com as próprias mãos impregnar a mente com a demência alheia.

O livro de Khaled Hosseini, todavia, apesar de mostrar a realidade violenta do Afeganistão durante três décadas aproximadamente, apenas serve-se da violência para descrever, com muito talento, o dia-a-dia, a cultura daquele povo. A leitura é fácil, gostosa e você fica morrendo de vontade de ler mais um pouquinho e saber, afinal, o que acontecerá í quelas personagens tão sofridas.

O autor diz algo que toda mulher deve saber. Saber para combater, pois não é privilégio de nenhuma cultura oriental. Ele diz: como uma bússula aponta para o norte, sempre terá o dedo de um homem acusando uma mulher.

E disto bem trata o livro, deixando o leitor pasmo ao conhecer mais intimamente a cultura afegã. O mais bacana da obra, na minha opinião, é sua estrutura diversificada: há romance, história, polí­tica, tudo bem encaixado. Nada falta, nada extrapola.

Detalhe histórico que me deixou surpresa é que, em todas as épocas, houve gente no Afeganistão que contestou a ligação polí­tica/religião e o desvirtuamento das palavras do Corão. Quer dizer, em todas as ocasiões, nestes 30 anos passados na obra, houve intelectuais que combateram a ignorância, ainda que enfraquecidos, derrotados, massacrados, pois não lhes faltou sonhar com a liberdade.

Não deixei de me abater um pouco por conhecer mais do que a ignorância pode fazer com o homem; é terrí­vel. E tudo em nome da fé, de um deus e da salvação.

Recomendo a leitura. Muito boa.

A fonte e a flor

Como falei no post anterior, sempre nos contaram muitas histórias. Há um poeminha de Vicente de Carvalho contado desde que minhas irmãs, que já passaram dos 40, eram bem pequenas. Uma delas chorava tristinha ao ouvi-lo, só pensando na aflição da flor sendo levada pelas águas da fonte.

A fonte e a flor

Deixa-me, fonte, dizia,
A flor, tonta de terror,
E a fonte, rápida e fria,
Cantava, levando a flor.

Deixa-me, deixa-me, fonte,
Dizia a flor, a chorar.
Eu fui nascida no monte,
Não me leves para o mar!

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
por sobre a areia corria,
Corria, levando a flor.

“Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu,
Ai, claras gotas de orvalho,
Caí­das do azul do céu!”

“Carí­cias das brisas leves
Que abrem rasgões de luar,
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!”

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor…

Histórias e romances e lembranças

Além de ler os meus, acompanho todos os livros que minha mãe lê. Quando a encontro, normalmente às 18, 19 hs, ela está lendo alguma coisa e, posto de lado o romance, ela me conta tudo, quem são os personagens, seus rumos e aflições. Já me peguei fazendo o mesmo, mas é bom segurar a onda, pois nem todo mundo tem paciência; nem todo mundo gosta disso.

Conheço, mesmo sem ter lido (ainda), grande parte dos livros de  Pearl Buck, escritora norte americana que trouxe ao ocidente os encantos e tragédias do oriente. Dela só li até agora o Mandala, um romance passado naÍndia e cuja história aproxima ocidente e oriente pela paixão de um Maharana (Prince Jagat) por uma mulher americana.

Não só minha mãe me contava histórias. Meu pai também. Eu não me esqueço daquela que se resumia em uma garotinha perdida na floresta que, após andar por várias horas, encontrava umas frutinhas que a faziam dormir. Quando a menininha acordava, depois de também muitas horas, a saga continuava: caminhava, comia, dormia.. caminhava, comia, dormia..  E eu, lógico, também dormia, deixando-o feliz da vida.

🙂

Literatura nota zero

E por falar em coisa ruim, nota zero para o “A casa dos budas ditosos”. E olhe que dizem por aí­ ser a obra mais primorosa do João Ubaldo Ribeiro. Sei lá, realmente é ridí­culo o falso moralismo, o preconceito contra preferências sexuais e o escambau. Realmente, é um absurdo que a mulher tenha sempre sido tão subjugada e outros bichos.

Mas não vejo como libertador que a personagem principal use bastante drogas,  faça sexo com o irmão, deseje o próprio pai e que tudo isto seja muito normal. Posso ser conservadora, mas o livro não leva ninguém a lugar nenhum.

Obviamente, como o sexo continua sendo fonte de curiosidade e como o incesto é polêmico (e como), uma peça teatral baseada na obra, tendo como atriz a Fernanda Torres como a personagem central, faz muito sucesso. Mas eu dispenso, obrigada.

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