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Mês: maio 2016

O Capote (e outras histórias) de Gogol

“Todos nós saí­mos de O Capote de Gogol”, disse Dostoiévski e foi justamente por causa desta frase que eu tive interesse em ler este maravilhoso escritor. 🙂

Nikolai Vasilievich Gogol nasceu em 1809, na cidade de Poltava.  Sua nacionalidade é motivo de controvérsia, pois sua cidade natal fazia parte do Império Russo na época, mas atualmente pertence í  Ucrânia. Como consequência, tanto a Rússia quanto a Ucrânia reivindicam a sua nacionalidade. Muitos de seus trabalhos foram influenciados pela tradição ucraniana, mas Gogol escreveu em russo e sua obra é considerada herança da literatura russa.

Aos 20 anos Gogol conheceu Púchkin (ambos influenciadores de Tolstoi e Dostoiévski), o maior escritor russo de então, e ficaram bem amigos.  Gogol não era polí­tico –  ao contrário de Púchkin -, não tinha um programa de ação contra o regime do Czar. Era um homem de preocupações mí­sticas, religiosas. Tinha, pelo que li, um misticismo até doentio.

Seus livros são bem diferentes dos dos famosos escritores russos, os tradicionalmente conhecidos no ocidente. Ele se funda no realismo, mas com um pé inteiro no que seria chamado posteriormente de surrealismo.

O conto “O Capote” é bem interessante; seu protagonista se tornou o arquétipo do pequeno funcionário público russo. Ou seja, foi o primeiro modelo ou imagem deste tipo de funcionário, que, a meu sentir, representa também outros tipos de funcionários públicos, não só os russos e os daquela época.

Também interessantes desta edição da Editora 34 são os contos  “O Nariz”, “Noite de Natal” e “Viy”.

“Diário de um louco” foi o meu preferido (todos da edição da foto): a história narra as aventuras de um funcionário público que nutre uma paixão platônica por Sofia, a filha de seu chefe. Com um humor insuperável, Gogol demonstra que este amor não correspondido (Sofia está noiva de outro) transforma a sanidade do protagonista em loucura. O conto é um diário e à medida que a loucura chega, as datas dos escritos vão ficando desconexas.

Em um belo dia ele “se descobre” rei da Espanha e passa a espalhar a notí­cia onde quer que vá, iniciando sua derrocada social. Rabugento, reclamão, ele tem grandes idéias, entre elas interceptar a correspondência de dois cachorros: Medji (a cadelinha de Sofia) e sua amiga Fiel. O diálogo das bichinhas é realmente divertido para nós, leitores. Mas não para o protagonista, pois, através dele, ele descobre que sua amada está realmente “enrabichada” (uma das expressões da cadelinha) por seu namorado Tieplov. O apaixonado fica, então, mais perturbado  e se diz rei Fernando VIII. Mais loucuras são proferidas e o personagem acaba na cadeia, onde sofre toda sorte de maus tratos que o fazem desejar que o matem de uma vez. O conto é divertido, mas a parte final traz a reflexão sobre a loucura real e suas consequências.

Nikolai Gogol foi o maior escritor russo da primeira metade do século XIX, introdutor do realismo na literatura russa e precursor de todos os grandes escritores russos que se lhe seguiram.

Não há como não repetir: “Todos nós saí­mos de O Capote de Gógol”.

Doce de ovos tradicional

Na minha infância era muito comum ter doces em casa. Na verdade sempre tinha; sempre. Era doce de leite, de frutas, cocada.. quando não tinha um doce especí­fico tinha rapadura picada. Lembro-me muito bem do meu pai sentado vendo o jornal da noite roendo uma bitola de rapadura; ele era muito doceiro. E tinha também o doce de ovos.  Quando papai fazia era o sucesso do fim de semana. O doce de ovos dele ficava como carne moí­da. Era marrom, não tinha gosto nenhum de ovo. Era muito bom, era delicioso.

O problema é que papai já é falecido e não deixou escrita a receita do seu doce. Procurei na internet e todos os doces que vi não me pareceram com o dele. E então teve o dia que a saudade bateu e eu resolvi tentar fazer o meu próprio doce de ovos. 🙂

Como a receita do papai não rolou, peguei a da minha vó, mãe de mamãe, e resolvi testar. Quem experimentou disse que ficou idêntica a original. Mas eu achei – pelo meu costume atual de comer menos açúcar –  excessivamente doce.

De qualquer forma, eis a receita. O doce é tradicional e, para muitos, cheira e tem gosto de infância.

Ingredientes:

  • 1/2 litro de leite cru
  • 1/1 quilo do açúcar
  • 4 ovos

Como fazer: 

Bata as claras em neve, acrescente as gemas e depois o leite. Despeje então na calda, que deve estar em ponto de fio (coloque cravos na calda). Pingue 1 gota de vinagre. Não mexa.

Detalhes importantes: retire a pelí­cula das gemas antes de acrescentá-las í s claras em neve; depois de acrescentadas as gemas bata muito bem para retirar o gosto forte caracterí­stico. E depois que a massa for levada ao cozimento, na calda, e depois de adicionado o pingo de vinagre, não se deve ficar mexendo a panela. Quando notar que houve o cozimento desligue o fogo e deixe esfriar.

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