Fiquei bastante impressionada com este livro de Orhan Pamuk. Não conhecia o autor, nunca tinha ouvido falar nesta obra específica. A bem da verdade me interessei por ele bem por acaso, numa ida sem pretensão à livraria Ouvidor com a família, num sábado ensolarado..
Havia assistido à série Seyit e Sura. Série turca, de época, que se inicia na Rússia do último czar, Nicolau II, e se desenvolve na Turquia após a revolução bolchevique. Neste passo, de maneira discreta – pois o foco é o romance entre os personagens principais – vamos acompanhando alguns acontecimentos históricos. E aí, se você gosta de história, o novelo se vai… Procurei vários textos na internet sobre a Turquia, ouvi novamente os podcasts do Xadrez Verbal... fui me encantando mais e mais com a história, os costumes do povo etc etc etc
E, justo neste momento de interesse, vejo o livro na prateleira da livraria.
Então…
O livro não é um romance ficcional. É uma autobiografia do autor e um retrato de sua cidade natal – Istambul – relatada tanto em seu aspecto físico quanto emocional. E enquanto se descreve fatos de infância (Orhan tem 66 anos hoje), há um passeio por histórias ainda mais antigas, da época, por exemplo, em que houve a ocidentalização da Turquia por Mustafa Kemal Atatürk na década de 20 e também de quando o império Otomano reinava absoluto. E parece que há, sim, ainda hoje, uma luta na cidade entre o antigo e o novo, o estilo de vida ocidental secular, europeu, e o turco. São as elites seculares contra os camponeses, com baixa instrução e mais religiosos. Esta questão havia aparecido em Seyit e Sura e eu estava bem curiosa pra entender melhor o contexto.
Istambul, Memória e Cidade foi escrito em momento de depressão de Orhan Pamuk; penso que há catarse na escrita. O autor expõe particularidades do casamento de seus pais e o relacionamento confuso com o irmão. Longe de ser lavação de roupa suja; pelo contrário. É uma escrita terapêutica. Há delicadeza, mas uma delicadeza libertadora em relação às suas relações familiares. O livro é intimista, nostálgico, suave e muito transformador. Para o autor (penso eu) e, com certeza, para seus leitores.
Orhan Pamuk foi o primeiro turco a receber um prêmio Nobel de Literatura (em 2006) e também a primeira figura pública a falar abertamente sobre o genocídio armênio, tema tabu na Turquia, fato que lhe rendeu perseguição, processo e condenação pelo seu estado natal.
Fiquei fã e não demorarei a ler outros livros de Orhan Pamuk. Excelente descoberta.
Baratinho Livros
Muito bom, obrigado pelo post! Vou colocar na lista de próximas leituras.
Ela
Ah, que bom! Fico feliz de ter colaborado. Abraço. 🙂