A Transparência do Tempo, de Leonardo Padura, foi presente de uma amiga querida durante o perí­odo em que eu estava me recuperando do joelho. Foi uma boa leitura, interessante para compreender melhor a realidade de Cuba.

Padura relata um pais amado, de gente boa de vida difí­cil. A pobreza e a escassez de produtos básicos estão na obra de forma enviezada, por exemplo quando os personagens se alegram por poder tomar um café decente. Não há crí­ticas tão diretas ou duras ao regime, Padura ama viver em Cuba, mas o escritor não faz questão de relatar um pais sem máculas ou dificuldades.

Pesquisei sobre Padura e li que ele mesmo se diz preterido em seu paí­s natal. Em razão de suas crí­ticas ao regime provavelmente, mas ele é o cara que diz que “precisamos refundar a utopia”, ele ama Cuba e não pretende deixá-la.

Em A transparência do tempo, seu último romance, há um trânsito entre a Guerra Civil Espanhola e o cotidiano da Cuba imediatamente anterior í  morte de Fidel Castro. A história versa sobre o famoso ex-policial cubano Mario Conde, que percebe o encolhimento da oferta de livros usados cuja revenda vinha sendo seu ganha-pão. Aparece, então, um ex-colega de escola e lhe oferece o trabalho de recuperar a estátua de uma Virgem negra que lhe fora roubada. Com o passar das investigações, Conde percebe que a peça é mais valiosa do que imaginava.

Há capí­tulos intercalados, nos quais o autor relata as lendas que envolvem a imagem da santa, tendo como pano de fundo a Catalunha, desde a Idade Média até a Guerra Civil Espanhola. Pela Cuba contemporânea Conde ronda dois polos da mesma moeda: o submundo dos cortiços, o tráfico de drogas e o ambiente tóxico dos colecionadores de arte, várias vezes envolvidos em contrabando e venda ilegal de obras. Padura fala de catolicismo e da santerí­a (que seria o Candomblé cubano?) sincretizados, o que torna o livro bastante interessante.

Leonardo Padura Fuentes nasceu em Havana em 1955. Pós-graduou-se em Literatura Hispano-Americana, é romancista, ensaí­sta, jornalista e autor de roteiros para cinema. Ganhou reconhecimento internacional com a série de romances policiais Estações Havana, adaptada para o cinema e que inclusive assistimos no Netflix. Padura também escreveu O homem que amava os cachorros, considerada sua obra principal, e Hereges, tendo recebido diversos prêmios de Literatura.