Nosso blog foi criado lááá atrás, há exatos 13 anos e quase 4 meses, em dezembro de 2007. O primeiro post foi no dia 09 de março de 2008, quando postamos sobre a compra de um carro. Estávamos bem felizes, era nosso primeiro carro zero. 🙂 Logo já comecei a escrever sobre minhas leituras e nossas viagens. São 13 anos de publicações, com poucas paradas de uns poucos meses (por N razões).
A ideia do blog foi Dele, que sempre adorou este tipo de interação e comunicação com o mundo; Ele queria registrar nossos passos na vida, nossas fotos, sempre sem identificação. Quando necessário, nos identificamos para nossos leitores (já aconteceu), mas o x da questão é manter um diário de nossas vidas. Queremos também que nossos filhos, um dia, possam ler algumas coisas sobre nós, descobrir coisas pela quais passamos.. achamos que pode ser bem legal. Inclusive, por vezes eu volto ao site para relembrar alguma coisa, seja uma receita – o que faço sempre – mas também o nome de algum lugar etc
E essa ideia Dele foi bem providencial. O blog me salvou em várias ocasiões. Em um momento da vida passei sem trabalhar, ora estudando para concursos, ora apenas sem saber o que fazer… e a escrita fazia a cabeça funcionar, me ocupava. Uma época em que, sem filhos, o tempo sobrava. E não estava legal.
Depois da criação do blog, eu fiquei sem o emprego de quase 10 anos… passei um tempo estudando e dando consultoria para um escritório (mas ganhava merreca)… depois desisti dos concursos… meu pai faleceu neste ínterim… nasceram os meninos… a vida mudou… Arranjei outro emprego, em uma coisa totalmente diferente, saí do emprego, voltei pra minha área… Novos desafios, dificuldades sim, mas muito amor. Por Eles e por Ele.
O blog é nosso ‘lugar’ de retratar a nossa vida. E eu prefiro retratar as coisas boas, as diversões, as comidas boas, os momentos de paz. Então, são poucas as postagens sobre o que vem nos acontecendo, o que vem acontecendo ao Brasil. E o fato é: nossos filhos jamais vão entender de onde saímos e aonde chegamos.
Eu tinha 12 anos quando a Constituição Cidadã foi promulgada e me lembro bem de todo o clima da ocasião. Eu não entendia bem o que estava acontecendo, pois dentro da minha casa nunca se falava de ditadura, mas a escola e, depois, a faculdade me abriram os olhos. Tive professores na graduação que sofreram torturas naquela época e um deles – fenomenal – nos mostrava que os monstros ainda ocupavam o poder.
A época pós constituição/88 não permitia que esses indivíduos aparecessem; eles estavam nas sombras, acho que só aguardando para dar o bote. E assim aconteceu décadas mais tarde. Eita lei de anistia que foi errada!
Mas antes dessa desgraça toda, tivemos esperança. Por um bom tempo a ideia era de que cresceríamos, evoluiríamos.. de que o país honraria a Carta que promulgou. Tínhamos esperança e confiança.
Isso durou, acho, até o crescimento exponencial de grupos conservadores. Agora eu vou chutar: acho que a coisa piorou quando grupos neo pentecostais começaram a crescer e ganhar poder. Isso ainda na década de 90. Eles vêm trabalhando bem, a passos de formiguinha, mas têm conseguido. Porque então… tudo o que entendíamos como evolução passou a ser tratado como um erro por uma grande massa de pessoas. E esse erro depois foi chamado (de forma desvirtuada, óbvio) de um tanto de coisa: de pecado, de perversão, de defesa de bandido, de comunismo, de defesa de pedofilia e a coisa foi ladeira abaixo.
Claro que a confusão toda não partiu de um único grupo, foi uma soma. Ideias conservadoras trazidas por religiosos sem critério + interesses de alguns poucos grupos $$$ que mandam no país + escândalos de corrupção que foram usados incessantemente pela mídia para desenvolver um ódio anormal por um grupo de pessoas. O fenômeno do conservadorismo é mundial e talvez vá e volte ao longo dos tempos, enfim… teve também o acesso coletivo ao mundo virtual, que trouxe consigo (além das mil maravilhas) as fakes news e os benditos grupos dos tios e tias do zap, que reforçam mentiras, teorias malucas e anti ciência diuturnamente. Vale rever os videos do Canal do Slow a respeito.
Pois tivemos o governo Dilma, que desagradou a muitos e ela foi retirada do cargo por um golpe sem armas. Mas mesmo antes, em sua primeira eleição, já começamos a ver um movimento estranho vindo da galera da oposição. Como escrevi neste texto, já notávamos um crescente pensamento fascista e conservador nos votantes do eterno derrotado Aécio Neves. E, embora nem todos os eleitores do falecido PSDB sejam, individualmente, escrotíssimos, foram eles que deram suporte ao então candidato Bozo, o reaça maior. Â
A resistência ao golpe de 2016
Há muito, mas muito material a respeito, inclusive de escritores/estudiosos não brasileiros. Em conclusão, quando pautas de direitos humanos começaram a virar tabu… degringolou tudo.
Pois bem, tentamos resistir, mas não deu. E ele, logo ele, um ser desprezível, ignorante, preconceituoso, patético, virou presidente. Um casal conhecido nosso mudou de país quando ele ganhou. “Não queremos criar nossas filhas num país governado por Bolsonaro”. E foi a melhor coisa que fizeram. Eu não conseguiria, pois teria dificuldades imensas de deixar minha mãe já idosa aqui, mas os dois já não viviam próximos de suas famílias e hoje estão em uma situação bem melhor que a nossa.
Oras! Estamos há mais de ano em quarentena! Sem ficar perto dos parentes, sem passear direito, sem aulas presenciais, sem atividades físicas adequadas para as crianças. Delas mal posso falar sem tristeza profunda. Perderam o convívio com as avós, tios e primos, estão com o ensino super defasado e ficam muito mais tempo em telas do que eu gostaria. Sem sol adequado, sem a presença dos amigos e convivendo com o nosso medo de pegar essa bosta de doença, que mata hoje no Brasil, por dia, em média, 3 mil pessoas!
Não vou me dar o trabalho de explicar o por que o presidente é responsável por tudo isso. Vou deixar aqui uma live do ítila Iamarino, pesquisador e divulgador científico que tem todo o meu respeito, entrevistando Deisy Ventura, Doutora em Direito e Professora Titular da Faculdade de Saúde Pública da USP; na live ela fala sobre quais órgãos são responsáveis pelo que passamos no Brasil e como a propagação da Covid-19 no país foi intencional.
O fato é que não vamos sair dessa tão cedo! Não tem vacinas para todos em tempo hábil. Estamos morrendo enquanto isso! A cada dia uma notícia da morte de um conhecido (perdi um parente até agora) e de milhares de desconhecidos. Mães que acabaram de parir, pessoas da mesma família, pais amorosos que deixaram seus filhos, jovens que ainda tinham uma vida pela frente. Senhores e senhoras idosas que mereciam dignidade no fim da vida. E, pasme! Com crueldade, já que a maioria dos cidadãos não está tendo o atendimento adequado, mesmo enquanto intubados. A última live do ítila é um tiro no peito.
Nosso blog tem o intuito de ser leve, prazeroso para quem caia aqui de para quedas e para nós mesmos no futuro. Mas este momento é de muita tristeza e dor. E medo. E angústia. E aflição. Não sabemos aonde está o perigo e se pode nos fazer um mal maior. Temos filhos crianças e nenhum de nós dois fica tranquilo com a situação. E os danos disso tudo são enormes: estamos muito mais nervosos do que o normal; estamos vivenciando um luto estranho a cada dia. Não quero falar sobre quem ainda apoia esse genocida nem sobre o dia em que me senti acuada ao protestar na janela do prédio. Quem sabe um dia…
Agora, só quero nossa dignidade de volta. Nada mais.
Foto: Edgar Degas (French, 1834 – 1917), The Convalescent, French, about 1872–January 1887, Oil on canvas, 65.7 í— 49.8 cm (25 7/8 í— 19 5/8 in.), 2002.57.
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