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Flanelinhas, uma afronta ao cidadão

Eu fico roxa só de ouvir a palavra flanelinha. Não consigo admitir, de maneira alguma, que estes sujeitos que vivem de extorquir os outros possam ser chamados de trabalhadores.

Ok, uns não extorquem e estão ali realmente para lavar carros, com todas aquelas buchas sujas e água barrenta, mas, vamos e venhamos, pelo menos em Belo Horizonte, estes caras são minoria. A maioria te intimida na maior e ai de você se não der “o cafezinho”.

Na última quarta-feira, dia 28, o inusitado ocorreu: os integrantes da Associação dos Lavadores e Guardadores de Veí­culos de Minas Gerais fizeram uma manifestação exigindo que a Prefeitura garanta a instalação de padrões de água e luz nas ruas e reserve espaços para que eles possam lavar os carros. Eles também pleiteiam o fim de uma cobrança anual feita pelo Sindicato da “categoria”, mais desconto na compra do faixa azul.

Segundo o presidente da associação, os flanelas estão chateados com a atual situação e pretendem fazer uma ‘paralisação’, que seria negativa para a população, com o aumento no número de roubos a carros. Parece piada, mas não é. E eu fico aqui, esperando ansiosa pela greve anunciada.

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  1. Aqui em SP a coisa não é muito diferente. Não chegou a se criar uma Associação dos Lavadores e Guardadores, mas eles estão por toda parte, em todo lugar.

    A cidade cresce em ritmos acelerados, e com ela, o número de carros. Tornou-se um problema, em São Paulo, estacionar o veículo na rua. Não há vaga. Hoje, para se chegar a um compromisso é preciso calcular não só o tempo que irá perder no trânsito inevitável, mas também o das voltas que você dará no quarteirão até encontrar um lugar para estacionar. Se você estiver indo a um restaurante, sorte sua, terá manobrista ao exorbitante preço de 10 reais (é quase padrozinado, este valor). Se não quiser, estacione na rua, não isento de pagar aquela moedinha.

    Por outro lado, por mais que tudo isso me incomode profundamente (odeio flanelinhas), eu entendo a existência dos flanelinhas e guardadores. Estou começando a ler um livro, O Desafio Urbano nos Países do Sul, do geógrafo francês Michel Rochefort, e ele fala sobre o setor informal da economia urbana. Este conceito é uma recuperação do conceito de Milton Santos, do livro O Espaço Divido.

    Só para resumir e não me estender ainda mais: a idéia é que o capitalismo gera grandes desigualdades sociais e econômicas. Isto reflete não apenas na dicotomia entre países norte e sul (ou desenvolvidos e subdesenvolvidos, expressões que prefiro não usar), mas também na dicotomia dentro dos próprios países, principalmente, nos do Sul. Basta pensar nas cidades brasileiras, a desigualdade social é imensa. Com tantas pessoas pobres, não podendo o mercado absorver toda a população, as pessoas criam forma de se reproduzir (reproduzir no sentindo de “dar um jeito de viver”). É aí que surge o circuito inferior da economia. O circuito informal abarcaria flanelinhas, guardadores, camelôs, artistas e músicos “desconhecidos”, o garoto que monta computadores para vender, a sacoleira, o bar da esquina que vende o prato comercial, o pedreiro, enfim, a gama é grande. O circuito superior seria aquele representado pelas empresas hegemônicas, principalmente, aquelas provenientes de capital estrangeiro. São as montadoras de veículos, os fabricantes de celulares, os bancos etc etc.

    O que quero dizer é que “o buraco é mais embaixo”. Não significa, porém, que eu deixe o flanelinha sujar meu vidro e agradeço pagando com uma moeda, feliz, afinal de contas, o capitalismo gera desigualdades e ele não tem culpa disso. Mas eu entendo porque existam e isto não me deixa feliz.

  2. A propósito, muito obrigada pelo link ao GeoBloG. Só vi agora, rs.
    Como uma forma de agradecimento, e pelo fato de seu blog ser muito bom, estou colocando um link para o Em Geral no Das Haus Die Frau.
    Um beijo!

  3. Ela

    Bacanas suas ponderações; penso que é cômodo levantar bandeira contra uma galera que não tem de onde tirar dinheiro para o sustento próprio e da família.

    O que me traz bastante aborrecimento é que – em se tratando deste meio informal de trabalho – há personagens bem distintas. Há o guardador de carros e há o cara que está ali apenas para te extorquir.

    Normalmente, quando o sujeito tem boas intenções e vive deste mister, possui um ponto específico, tem clientela fiel e não retaliará o motorista que não o “contratar”.

    Ocorre que, como a função é informal, vários outros indivíduos se denominam guardadores de carro e atuam sem qualquer regramento. O comportamento destas pessoas é até compreensível em razão de seu contexto histórico/social, mas não pode ser aceito como adequado/legal.

    Minha crítica fica neste ponto: os dois comportamentos mencionados tem uma aura de, digamos, aceitável, sem que ninguém tome partido dos que são reféns da atitude criminosa. Talvez esta condescendência exista em face de uma culpa social, não sei.

    De qualquer forma, seria interessante que as condutas fossem bem discriminadas, não aturando o Poder Público aquelas que afrontem de maneira clara os direitos fundamentais do cidadão.

    A economia informal não pode, jamais, ser menosprezada, como não podem ser menosprezadas as razões pelas quais há gente trabalhando nas ruas, sem qualquer proteção e garantia.

    Não vejo o problema na economia informal. Vejo uma deturpação geral: social, política, econômica e que vem gerando uma espécie de guerra civil entre classes.

    Eu só gostaria – mesmo – que o Poder Público fosse mais ativo e estivesse presente nos momentos em que crimes, escondidos sob um colete da Prefeitura, fossem cometidos. Mas eu admito que talvez seja querer muito quando há outros direitos fundamentais, tão ou mais importantes, se é que dá pra simplificar desta maneira, sendo infringidos.

  4. Anselmo La Rocque Santana

    EMPRESÁRIO CARIOCA MATA FLANELINHA
    Há cerca de dez anos, um atrito entre flanelinha e motorista terminou em tragédia no Rio de Janeiro. Um guardador de carros, drogado, abordou uma motorista grávida de oito meses que estacionava sua Mercedes-Benz
    e exigiu trinta reais para tomar conta do seu carro. Indignada, a senhora se recusou a pagar a abusiva “taxa”, que segundo o flanelinha, era porque “carro importado dá mais trabalho de reparar”. Diante da negativa, o elemento a esbofeteou. Humilhada e chorando, ela ligou do seu celular para o marido, um empresário, que foi armado até o local e matou o flanelinha com um tiro no rosto. O caso terminou com a absolvição do acusado, que segundo a defesa agiu sob forte emoção, com o agravante de sua esposa ter sofrido risco de aborto. Será que as autoridades estão esperando que tal fato se repita?

  5. Eduardo Pitbull

    Riscou meu carro, leva bala!

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