um blog sobre todas as coisas em geral

Porque me esforço para criar meus filhos num ambiente livre de preconceitos

Desde que me entendo por gente convivo com o sobrepeso. Quando criança eu era bem gordinho. Gordinho não. Gordão, pois minha estatura não permite a aplicação do diminutivo. Foi na adolescência que eu consegui emagrecer um pouco. Hoje, embora ainda um pouco acima dos quilos ideais, aprendi a conviver melhor com a situação.

Mas o quê quer dizer conviver melhor? Vivo em relativa paz com meu corpo e peso. No exame médico da academia me classificaram como falso magro. Me dei por satisfeito. No entanto, de quando em vez, ainda me pego sofrendo bastante por não me sentir encaixado nos padrões estéticos. Isso aborrece muito.

O incômodo não ocorre em função do peso ou aparência. Quem me vê sequer desconfia da situação. Muitos até duvidam que já fui bem gordo. O que chateia é o fato de eu ainda me sentir inadequado. E tenho plena noção e consciência de que isso tem uma origem definida na minha vida.

Sofri muito preconceito quando criança. Fiz tratamentos de emagrecimento ainda muito jovem. Sem sucesso.

Tentei praticar esportes, mas digamos que não fui muito bem recebido pela turma do futebol. Eram os mesmos colegas de classe que já estavam acostumados a me chamar de tudo quanto era apelido pejorativo para deixar o gordo sem graça. Tanto na sala de aula quanto na vizinhança. O mesmo tipo de recepção me esperou praticamente em todos os esportes que tentei praticar naquela etapa da vida. Insisti um pouco mais com o basquete, mas também sem êxito. Só fui conseguir praticar esportes depois de ter emagrecido, quando tinha uns 16-17 anos. Fato é que o que escutamos na infância nos marca para o resto da vida.

E não apenas nas quadras e recreios fui discriminado. E muito menos apenas por meus colegas. Uma das piores lembranças que tenho é a de um apelido mais que pejorativo que eu e outros dois colegas de sala – também obesos – recebemos de um professor. E como assim éramos chamados em clima de descontração, nós três acabávamos rindo também. Mas só eu sei o que se passava dentro de mim. E o quanto me incomoda o fato de nada ter feito í  época. Mas eu era criança e deveria ser protegida. E não atacada.

Em virtude do que sofri procuro e quero criar meus filhos de forma que sejam pessoas que não se deixem abalar por crí­ticas e piadas jocosas que eventualmente possam vir a sofrer no futuro. Também sei que tenho a responsabilidade de criá-los para que jamais sejam capazes deste tipo de atitude. Eles precisam entender que sofrer preconceito é algo que proporciona consequências impossí­veis de mensurar. Eles precisam conhecer e entender o que é a empatia, o que é sofrer uma agressão psicológica, uma agressão fí­sica.

É por causa desta minha história que me incomoda muito o fato de que – em pleno 2013 – ainda presenciemos o preconceito e a discriminação (por qualquer motivo que seja) acontecer em escolas. Talvez eu não deveria ter aceitado aquele tratamento. Mas era algo que nem se cogitava contrariar. Chamar um garoto gordo de gordo em 1987 era algo que não se encarava como um problema. Infelizmente.

Ainda bem que hoje as coisas são um pouco diferentes.

Nunca é excessivo ensinar sobre tolerância e respeito. E não se resume a algo que deva ser abordado esporadicamente numa famí­lia. É um esforço diário e quase hercúleo. Um verdadeiro desafio que precisamos enfrentar, uma vez que vários comportamentos preconceituosos estão arraigados na sociedade. Quem não se enquadra no padrão esperado que passe a vez. Ainda é assim.

Embora não proporcione uma solução direta e imediata para o problema (como disse, acredito que o caminho para nos vermos livres do preconceito é longo e tortuoso) tratar o tema de forma constante, aberta e direta é o que podemos fazer de mais eficiente. Por isso resolvi falar do assunto aqui. Quem sabe compartilhando esta história colaboro para que os comportamentos preconceituosos diminuam?

Não podemos deixar de tentar.

Anteriores

Sem açúcar e com muito afeto

Próximo

Quiche de abobrinha

  1. Sim, compartilhando a história vocês colaboram para que os comportamentos diminuam. Tristes pensamentos discriminatórios tem nos tornado cada vez mais individualistas e desrespeitosos, não é mesmo?
    Obrigada por participar da ação virtual!
    Um abraço,
    Flávia Pellegrini
    napracinha

  2. Adorei o post, a gente bem sabe que essa realidade existe ainda em muitas escolas e a educação em casa é o começo – e a base fundamental – para o comportamento dos nossos pequenos, até a idade adulta. Ou seja, nós, pais, somos responsáveis diretos também para mudar essa realidade. Grande abraço!
    Miriam Barreto
    napracinha

  3. Estou visitando os blogs que participaram BC… Pois é quem deveria nos proteger tbm nos ataca, eu tbm fui vítima na minha infância de apelidos, sofri muito com isso, aprendi como vc mesmo diz a lidar com isso, mas ficam marcas. Não gosto do preconceito, tbm quero criar a minha filha aprendendo a respeitar as diferença. Ensinando, dando exemplos.
    Abraços
    Silma Matos

    minhaflorbela

Deixe um comentário para Miriam Barreto Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén