“Cada vez que mergulho uma criatura viva nesse banho ardente de dor, penso: desta vez, queimarei todo o animal até extingui-lo, desta vez produzirei uma criatura racional de acordo com meu desejo. Afinal de contas, o que são dez anos? O homem está sendo aperfeiçoado há cem mil.”
Li A Ilha do dr. Moreau, de H. G. Wells e fiquei muito, muito impressionada. Que livro!
Primeiro temos que mencionar que foi escrito em 1896. Sequer havia acontecido a primeira transmissão de rádio no mundo! Pare um pouco pra pensar de como era aquela época, em que pé estávamos na Medicina, como estávamos em sociedade e em como Wells foi inovador e criativo ao forjar a história de um médico e seus experimentos com genética. Não por acaso H.G. Wells (autor também de Guerra dos Mundos, A máquina do Tempo e o Homem Invisível, dentre outros) é apontado como um dos pais da moderna ficção científica, tendo influenciado inúmeros escritores – todos fantásticos e imprescindíveis – como George Orwell, Asimov, Arthur Clarke, Aldous Huxley, C. S. Lewis e Carl Sagan.
A história é relatada por Edward Prendick que, depois de um naufrágio, é resgatado por Montgomery, passageiro de um barco que leva um grande número de animais para uma ilha perdida no Pacífico. Prendick é obrigado a ficar na ilha e lá conhece o doutor Moreau (exilado por suas pesquisas controversas na Inglaterra), para quem Montgomery trabalha. Na ilha eles desenvolvem um trabalho duvidoso: recriar a forma humana a partir da remodelagem física de animais utilizando a hipnose e o processo de vivissecção. A dor do processo serviria para trazer í tona a humanidade destes animais.
Neste passo, há, na ilha, homens-porcos, homens-hienas, homens-cães.. Alguns mais tranquilos e dóceis acompanham o mestre. Outros foram abandonados e vivem em bandos, sempre idolatrando Moreau como um deus. Prendick, claro, fica acuado e acaba por colaborar para o início de uma rebelião entre os habitantes da ilha.
O livro não é exatamente sobre eventuais problemas surgidos com a condução errônea de experimentos científicos, embora trate da ética científica. AÂ ênfase está no comportamento humano, na religião, na política, nas relações de poder e na evolução. O grande destaque da obra, a meu ver, é para o funcionamento da sociedade semi-humana (Povo Animal), as interações das bestas umas com as outras e com cada um dos personagens humanos. Muito se fala sobre o conceito de civilidade e sociedade em geral.
A Ilha do dr Moreau é daquelas obras que transbordam os limites do seu tempo e atingem todas as outras épocas. São as obras-primas. Não deixe de ler.
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