Esse livro é daqueles ao qual você quer que todo mundo tenha acesso. E olha.. não é fácil ler sobre tanta tramóia, tanto jogo sujo e depois fazer compras da mesma maneira, sem questionar várias coisas, desde a promoção do dia até se os ovos da granja das galinhas soltas são mesmo de galinhas soltas.
E o buraco é muito mais embaixo. Existe uma exploração contínua do trabalhador, todo mundo sabe disso. Porque não existe uma fiscalização firme? Porque não existe um MPT continuamente trabalhando para coibir os tomés que o povo sofre diuturnamente?
Sei lá. Esse livro nos causa um misto de esperança, por existirem pessoas que ainda se importam, com uma depressão terrível, pois parece que não há como sair do poço fundo onde nos metemos. A problemática não é só brasileira – diga-se – mas aqui, ainda mais com os governos liberais que estão nos governando desde o golpe em Dilma, a coisa vai só piorando.
Lembrando que os direitos trabalhistas foram detonados no período Temer e que agora somos assolados pela praga chamada Bozonero. Aff.
Aqui em casa vamos tentando algum movimento de conscientização. Compramos, quando dá, de produtores, de feirantes (isso toda semana), de pequenos sacolões… Mas não conseguimos abandonar as grandes redes, ainda mais nesse período em que todos os produtos aumentaram demais os preços, mas os nossos salários não. Então… ofertas e promoções também nos seduzem. 🙁
Leiam esse livro.
Como as redes de supermercados cresceram tanto? Carrefour e Pão de Açúcar formam um duopólio? Como o Estado permitiu que isso acontecesse? Que impactos esse gigantismo traz para os consumidores e fornecedores? E para os quase 200 mil funcionários das duas maiores redes? Essas e outras perguntas ecoaram em nossas cabeças por meses. As respostas estão neste livro-reportagem, que destrincha as estratégias que fizeram dos grupos franceses os donos do mercado. E mostra que o preço mais alto não está nas prateleiras. ** Nosso gesto de consumo mais banal. Mais automático. Mais repetido e repetitivo. Mais impensado. E, no entanto, um dos gestos que mais tem implicações para nós e nossos corpos. Para nossas cidades. Para nosso planeta. Os supermercados, em especial aqueles posicionados em áreas de classes média e alta, são a linha tênue entre o absolutamente chato e o perfeitamente eficiente. Um espaço onde não se está. Um não problema. Um lugar no qual entramos, nos servimos do que precisamos e seguimos a vida. Seguramente é assim que as corporações do setor querem ser vistas. Carrefour e Pão de Açúcar não pretendem rastejar pelo nosso afeto. Basta que não as odiemos. Ao longo de um ano, os repórteres Victor Matioli e João Peres vasculharam cada prateleira em busca de respostas. E, principalmente, foram além do que está exposto para venda. A investigação parte de uma pergunta simples: qual a fatia de mercado controlada por Pão de Açúcar e Carrefour? A partir disso, revela-se uma teia complexa de estratégias diversas e entrelaçadas que fizeram e fazem das duas corporações francesas as donas do varejo alimentar brasileiro. O supermercado é a vitrine principal de um paradigma de desenvolvimento que fracassou profundamente. Sete décadas depois de lançada a ideia de progresso infinito e inevitável, estamos mais pobres e mais desiguais. O planeta está esgotado. O desalento dá o tom de nossa década. Há contestações ao agronegócio, í s indústrias química, farmacêutica, alimentícia, automobilística, têxtil, de tecnologia, a praticamente qualquer corporação do planeta. E, no entanto, os supermercados seguem desfrutando de nossa boa vontade. Da banalidade absoluta do ato de consumo mais corriqueiro. Ao longo da investigação, o sofrimento se revela como regra, e não como exceção. Trabalhadores que recebem o mínimo e são descartados í s dezenas de milhares todos os anos. Um Judiciário abarrotado de processos por violações, assédio, doenças laborais. Os autores descobrem um sem-fim de condições impostas pelas redes aos fornecedores, que, mesmo milionários ou bilionários, parecem sempre frágeis diante do tamanho dos supermercadistas. Um modelo de negócios que exclui os pequenos agricultores, cada vez mais em apuros. E que exclui a diversidade para transformar a todos em consumidores pasteurizados. Nesse lugar de gente infeliz, o Estado peca duplamente. Ora pela inação: foram as vistas grossas do órgão de controle da concorrência que permitiram que a concentração aumentasse fortemente nas últimas três décadas. Ora pelas atitudes em favor do poderio das duas redes: os recursos do BNDES foram absorvidos quase na totalidade pelas duas redes. Ora pela anuência a uma série de artifícios utilizados para evitar o recolhimento de tributos. Créditos cobrados por empresas-fantasma, esquemas de exportação fictícia, remessas a paraísos fiscais: nada disso encontra punição í altura pelos mecanismos federais e estaduais de controle tributário e fiscal. Mas não há um grande volume de reflexões sobre o papel dos supermercados nessa operação. É ali, entre gôndolas e códigos de barra, que a história se perde. A história do alimento. A nossa história. Donos do mercado é um trabalho imprescindível para quem quer enxergar além das prateleiras.
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