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Nossas férias de julho de 2017

Nestas férias de meio de ano de 2017 não viajamos. Eu queria muito ficar aqui em BH mesmo, curtindo a casa, os passeios, ter uma rotina que não podemos ter nos dias normais de trabalho.

Nossas noites foram marcados pela leitura do Pequeno Prí­ncipe. Todas as noites, antes de deitar, eu lia um pedacinho da história pros meninos. O Pequeno Prí­ncipe, em verdade, é para meninos um pouco maiores (vou reler daqui a uns anos), mas eu garanto que os dois entenderam um bocado da história. Me surpreendi realmente como eles conseguiram perceber a moral da coisa. Foi muito bacana.

Enfim, em nossos 15 dias de férias brincamos bastante em casa (com amigos e vizinhos também), recebemos vovó e tio para o almoço, fomos a exposições, cinema, tomamos muito sorvete, pipoca… passamos muito tempo no clube, comemos pizzas, comida japonesa, fomos a restaurantes com brinquedos, andamos a cavalo no Paladino.. visitamos as duas vovós, fomos a dois aniversários… ficamos muito tempo juntos na cama pela manhã, foi muito bom!

De todos os programas o mais gostoso: ficarmos no sofá abraçadinhos, no friozinho gostoso deste mês de julho. Vai deixar lembranças. E saudades, sempre.

A resistência ao golpe de 2016

Eu li A resistência ao golpe de 2016 em fevereiro deste ano de 2017 e, como ainda não havia falado a respeito, resolvi fazê-lo hoje, dia em que o atual Presidente da República, o golpista Michel Temer, convocou o Exército para enfrentar e conter manifestantes que protestavam por sua saí­da do Governo e por eleições diretas. O uso do Exército para tal finalidade é flagrantemente inconstitucional e só demostra a vileza, a torpeza e a podridão do ser (e de sua trupe) que hoje comanda o Executivo brasileiro. Enfim, Temer deu o pulão e agora entra em desespero porque o povo não o vê com legitimidade para governar e muito menos aceita que reformas sejam tratadas sem o devido debate popular e por polí­ticos criminosos (quase todos golpistas). Ou seja, em tempos tão sombrios.

O livro em questão é excelente material para quem quer conhecer os passos podres do golpe. Ele é composto de 103 textos, escritos por excelentes juristas. Há uma preocupação em explicar o porquê do julgamento de Dilma ter sido polí­tico, desvenda o papel do Judiciário e da mí­dia na crise, alerta sobre a misoginia no golpe, sobre a regressão do Estado de Direito no Brasil, atenta para o fato de que a democracia contemporânea ainda é frágil e está sendo totalmente amputada pelo capital, dentre outros vários tópicos, todos muito interessantes, importantes, informativos.

Um ótimo documento sobre a nossa história, tratada no âmbito do  Direito, da Polí­tica, da História propriamente dita e também sob o olhar do Feminismo. Indico fortemente a todos.

“Dirão que exagero na dramaticidade, mas penso que não. A democracia foi literalmente tomada de assalto. Golpeada implacavelmente por forças movidas por um ódio polí­tico inédito na história recente e que somente encontra paralelo em 1964 e nos anos posteriores ao golpe..

.. É difí­cil encontrar forças para permanecer resistindo, quando o espaço de resistência ao autoritarismo encolhe cada vez mais. É como se nos faltasse o ar, expulso dos pulmões por um desleal soco no estômago. E sem oxigênio não se sobrevive.”  (trecho do texto do professor Salah H.Khaled Jr.)

Estamos juntos, professor.

A história não absolverá quem nos fez passar por tudo isso; quem, apenas com foco nos seus interesses pessoais, tem conseguido minar o Estado de Direito Brasileiro e a tão jovem e desejada democracia.

Mais uma leitura infantil: Bairro Feliz

Acabamos Roverandom com sucesso! Os meninos compreenderam bem a história e ficaram tristinhos quando ela chegou ao fim.

Partimos agora para o livrinho infantil Bairro Feliz, da escritora Maria Lisia Corrêa de Araújo, já falecida e que foi grande amiga de minha mãe. Ela costumava nos presentear com um exemplar de cada obra sua, com muita gentileza. Este mesmo está autografado pra mim e foi guardado com carinho.

Maria Lysia Corrêa de Araújo nasceu em 1921 e faleceu em 2012 (com 91 anos). Sua obra foi diversificada: fazia crí­tica teatral, crônicas, romances e contos. Tenho pra mim que era uma mulher í  frente de seu tempo. Trabalhou como atriz em várias cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte,  participando de grupos teatrais importantes como o Arena, o Oficina, a Cia Maria-Della Costa, a Cia. Tônia-Autran, entre outras. Trabalhou com diretores experientes e encenou peças de conteúdos ideológicos profundos em uma época de silenciamento e repressão.

Intelectual, interessante, metódica (nadava praticamente todos os dias pela manhã, fazia chuva ou sol, mesmo quando já estava bem idosa), era uma querida.

A última vez que a vi comprava pão em uma das padarias do bairro e conservava os mesmos lindí­ssimos olhos azuis.

 

Roverandom, de Tolkien

Roverandom está sendo o primeiro livro mais elaborado que eu leio para os meninos. Nós lemos praticamente todos os dias. Falta-lhes a história apenas em momentos de muito cansaço ou se estão indo para a cama mais tarde do que o ideal. Então, dia após dia, lemos as histórias que são pré determinadas para a idade deles.

Mas tenho notado que eles já conseguem acompanhar histórias maiores, textos mais sofisticados, e, por isso, resolvi começar com um autor apreciado aqui em casa.

Quando retorno a leitura no dia seguinte, faço primeiro um apanhado do já ocorrido. Peço ajuda aos dois e vou apoiando. O menino, falador que só ele, passa na frente e sai desandando com a história. Ela é mais reservada e ouve. 🙂

Ambos estão bem satisfeitos com o passo adiante que demos com este livro. Não largamos os anteriores, claro que não. O dois estão em franco processo de alfabetização e os livrinhos já familiares são fenomenais.

E daí­ em diante teremos muito mais. Monteiro Lobato nos aguarde!

 

Pequena biografia de Dostoiévski

Dostoiévski nasceu em 30 de outubro de 1821, num hospital para indigentes onde seu pai trabalhava como médico. Ele era o segundo dos sete filhos nascidos do casamento entre Mikhail Dostoievski e Maria Fiodorovna. A mãe do escritor morreu em 1837, de tuberculose e, no ano seguinte, Fiódor ingressa na Escola de Engenharia Militar de São Petersburgo, onde aprofunda conhecimentos das literaturas russa, francesa e outras. Em relação a seu pai, vários textos dizem que foi assassinado em 1838, pelos próprios servos de sua propriedade rural, que o consideravam autoritário. Alguns biógrafos afirmaram que foi quando Dostoievski teve sua primeira crise epilética. Joseph Frank, famoso biógrafo de Dostoiévski, diz haver provas de que o pai dele teria morrido, na verdade, de um AVC e que os boatos em contrário foram propagados para diminuir o preço da propriedade dos Dostoiévski, pela qual um vizinho mostrava interesse. Tal hipótese é pouco aceita pelo que percebi de minhas buscas e leituras.

Em 1844, com apenas 23 anos e pais já falecidos, abandona a carreira militar e escreve seu primeiro romance, Gente Pobre, publicado em 1846, com grande recepção da crí­tica.  Desde esta época começa a contrair algumas dí­vidas e a sofrer de uma enfermidade nervosa, frequentemente confundida com sua epilepsia, que começou a se manifestar muitos anos mais tarde.

É acusado de  frequentar cí­rculos revolucionários de Petersburgo e, em 1849  – com 28 anos -, é preso e condenado í  morte. No último minuto, entretanto, teve a pena comutada para 4 anos de trabalhos forçados, seguidos por prestação de serviços como soldado na Sibéria. Tal experiência foi retratada no livro Recordação da casa dos mortos (publicado em 1961), uma coleção de fatos e eventos ligados í  vida nestas prisões.

Façamos um adendo para explicar que Nicolau I, imperador Russo da época, era extremamente conservador e seu reinado foi marcado por uma grande expansão territorial, repressão de dissidentes, estagnação econômica, polí­ticas ruins de administração, burocracia e guerras frequentes. Enquanto isso,  a Europa ocidental estava em polvorosa. Era justamente o perí­odo das Revoluções de 1848 (Primavera dos povos), série de revoluções que eclodiram principalmente em razão de regimes governamentais autocráticos, de crises econômicas e da falta de representação polí­tica das classes médias, dentre outras.

Influenciados pelas Revoluções de 1848, um grupo de intelectuais progressistas (dentre eles Dostoiévski) começou a se reunir e, apesar de não terem um ponto de vista uniforme sobre questões polí­ticas (o organizador era Mikhail Petrashevski, um seguidor do socialista utópico francês Charles Fourier), a maior parte deles se opunha í  autocracia do Tsar e ao sistema de semi-servidão. Este grupo ficou conhecido como o Cí­rculo Petrashevski e foi oficialmente proibido pelo governo do czar Nicolau I, que o confundiu com uma organização subversiva revolucionária. O cí­rculo foi banido em 1849 a seu mando, seus membros foram detidos e alguns fuzilados.

O Cí­rculo Petrashevski era dedicado principalmente í  discussão das condições de vida na Rússia, centrada nas obras da imensa biblioteca de obras proibidas de Petrashevsky, obras que, segundo os registros da sociedade, Dostoiévski consultou em várias ocasiões. Na verdade, Dostoiévski não ia í s reuniões do Cí­rculo há mais de três meses quando foi preso, e participava realmente de uma organização radical liderada por Nikolai Spechniev, radical que se tornaria o protótipo para Nikolai Stavróguin, protagonista de Os Demônios. Essa organização, porém, não foi descoberta pelas autoridades e sua existência só veio a público em 1922.[17]

Em 23 de abril de 1849, ele e os outros membros do Cí­rculo Petrashevski foram presos. Dostoiévski passou oito meses na Fortaleza de Pedro e Paulo até que, em 22 de dezembro, a sentença de morte por fuzilamento foi anunciada. Em 23 de dezembro, os membros foram levados ao lugar da execução, e três membros do grupo, inclusive o próprio Petrashevski, foram amarrados aos postes em frente ao pelotão. Dostoiévski era um dos próximos, e se lembrou, posteriormente, de ter dividido seu tempo para se despedir dos amigos e refletir sobre sua vida. Quando disse a Nikolai Spechniev, que se encontrava atrás dele, “Nós estaremos com Cristo”, o revolucionário respondeu “Um pouco de poeira”. Antes da ordem para o fuzilamento, chegou uma ordem do Czar para que a pena fosse comutada para prisão com trabalhos forçados e exí­lio. Depois os membros souberam que a ordem havia sido assinada há dias, mas que o czar exigira a falsa execução como uma punição a mais. Dostoiévski recebeu os grilhões e partiu para o exí­lio na noite de Natal. Todos esses fatos foram contados pelo escritor em uma carta a seu irmão Mikhail Dostoiévski, na qual ele faz várias referências í  obra “Os íšltimos Dias de um Condenado í  Morte”, de Victor Hugo.”

A condenação, enfim, ocorreu por Dostoievski ter supostamente conspirado contra Nicolau I. A partir de então começou a escrever Memórias da Casa dos Mortos, baseado em suas experiências como prisioneiro; ele teve condições de descrever com grande autenticidade as condições da vida nas prisões e sobre o caráter dos condenados que nelas viviam. Interessante que os condenados eram proibidos de escrever memórias e relatos, então Dostoiévski disfarçou a obra como ficção, dizendo-a obra de um homem preso por assassinar a esposa em uma crise de ciúmes. Por anos muitos acreditaram que esse havia sido de fato o crime do escritor.

Em 1857, aos 36 anos,  Fiódor casa-se com Maria Dmitrievna e, três anos depois, de volta a Petersburgo, funda com o irmão a revista literária O Tempo, fechada pela censura em 1863. Lança posteriormente outra revista, A época, onde imprime trechos de Memórias do Subsolo. Aos 43 anos perde a mulher e o irmão e, em 1866, publica Crime e Castigo. No mesmo ano de Crime e Castigo conhece Anna Grigórievna, estenógrafa que o ajuda a terminar o livro O jogador e que será sua mulher até o fim da vida. Em 1867, cheios de dí­vidas, embarcam para a Europa, fugindo dos credores. Neste perí­odo escreve O idiota (1868) e O eterno marido (1870).

Retorna a Petersburgo e publica Os demônios (1871), O adolescente (1875) e começa a edição do Diário de um escritor (1873-1881). Em 1878, com 57 anos, perde o filho Aleksiêi, de apenas três anos e começa a escrever Os Irmãos Karamázov, que será publicado em fins de 1880. Dostoiévski falece em 28 de janeiro de 1881, com 58 anos, deixando várias obras inconclusas, dentre elas a continuação de Os irmãos Karamázov, considerada um dos principais monumentos da história da literatura universal.

OS FILHOS DE DOSTOIÉVSKI

Dostoievski teve quatro filhos, sendo que dois deles morreram ainda na infância. A filha Lyuba, não teve filhos; logo, seus herdeiros descendem de seu filho Fyodor, que teve dois filhos: um deles – também Fyodor, assim como o avô e o pai e que morreu ainda muito jovem. Do outro, Lopatin, descendem os herdeiros vivos do grande autor.

BIBLIOGRAFIA DE DOSTOIÉVSKI

1846 - Gente Pobre

1846 - O Duplo

1847 - A Senhoria

1848 - Noites Brancas

1849 - Nietotchka Niezvanova

1859 - O Sonho do Tio

1859 - A Aldeia de Stiepântchikov e Seus Habitantes

1861 - Humilhados e Ofendidos

1862 - Recordações da Casa dos Mortos

1862 - Uma História Lamentável

1863 - Notas de Inverno Sobre Impressões de Verão

1864 - Memórias do Subsolo

1865 - O Crocodilo

1866 - Crime e Castigo

1867 - O Jogador

1869 - O Idiota

1870 - O Eterno Marido

1872 - Os Demônios

1873 - Diário de Um Escritor

1873 - Bóbok

1875 - O Adolescente

1876 - O Mujique Marei

1876 - A Dócil

1877 - Sonho de um Homem Ridí­culo

1879 - Os Irmãos Karamasov

Gente pobre, de Dostoiévski

Gente pobre é o primeiro romance de Dostoiévski e foi imediatamente aclamado pelo público, fazendo do autor um escritor consagrado da noite para o dia.

O livro é uma troca de cartas entre Makar Diévuchkin e Varvara Alieksiêievna, moradores de um dos bairros miseráveis de Petersburgo. Ele um funcionário público ordinário, um senhor de meia idade, e ela uma jovem órfã injustiçada, ambos pobres e praticamente jogados í  própria sorte na Rússia de Nicolau I.  Há uma expressão dos afetos com grande sensibilidade e, ainda que apenas por cartas (de amor ou fraternais?) trocadas por ambos, traz ao leitor as condições de grave injustiça social em que viviam as populações da cidade e do campo daquela época. As vidas sofridas e os pequenos acontecimentos do dia-a-dia refletem as individualidades que se tornam insignificantes pela miséria.

Vale citar um trecho do posfácio do livro da Editora 34, da tradutora Fátima Bianchi. Nele a especialista diz que:

“No “homem sem importância”, na mais limitada natureza humana, ele procura mostrar um ser pleno, capaz de pensar e sentir, e mesmo de agir, da maneira mais profunda, apesar de sua pobreza e humildade social.

A intenção do escritor, na representação do cotidiano de seu personagem em sociedade, é demonstrar, através da imagem que ele tem de si mesmo, que sua miséria exterior não espelha o que lhe vai nas profundezas do coração.”

Os contos “O chefe da estação”, de Púchkin e “O capote”, de Gógol, são citados na obra, indicando as então principais influências de Dostoiévski.  Makar Diévuchkin, a propósito, lembra a todo instante o Akaki Akakievich de Gógol, ambos copistas, funcionários inexpressivos de repartição pública de Petersburgo, homens sem importância, pobres e desolados por serem privados do objeto de seu amor obsessivo.

É muito interessante a maturidade de Dostoiévski. Aos 25 anos – o livro foi escrito em  1845 e publicado em 1846 – conseguiu sair do completo anonimato para a glória, tendo sido imediatamente aclamado por poetas consagrados; Dmitri Grigoróvitch, por exemplo, logo após ler os  manuscritos de Gente pobre, anunciou o surgimento de um novo Gógol.

A predição de um grande futuro ao jovem escritor confirmou-se formidavelmente.

O Incolor Tsukuru Tazaki e Seus Anos de Peregrinação

Haruki Murakami é um fenômeno mundial. O Incolor Tsukuru Tazaki e Seus Anos de Peregrinação vendeu mais de 1 milhão de exemplares no Japão só na semana em que foi lançado. Também  atingiu, ao redor do mundo, o primeiro lugar das listas de mais vendidos. Até este ano eu não o conhecia, mas me emprestaram o livro com recomendações e decidi ler.

Não conheço os demais livros de Haruki Murakami. Li “O Incolor” e, sinceramente, não achei nada demais.

A história não surpreende: Tsukuru Tazaki, o protagonista,  é um homem solitário, perseguido pelo passado. Na época da escola, morava com a famí­lia em Nagoya e tinha quatro amigos inseparáveis. Já adulto vai para Tóquio – onde trabalha no projeto e na construção de estações de trem – e namora uma mulher dois anos mais velha. Mas não se esquece de um trauma sofrido dezesseis anos antes: inexplicavelmente foi expulso deste grupo fechado de amigos e nunca mais os viu. A trama trata exatamente desta revista ao passado, da busca por explicações  e do reencontro com aqueles que o abandonaram.

Em praticamente todas as sinopses que eu li fala-se de uma jornada que leva Tsukuru a locais distantes, fala-se de  uma transformação espiritual na busca pela verdade… Mas eu achei bastante morno, sem graça e até previsí­vel. De emocionante não tem nada não; pelo menos foi este o meu sentir.

Como o autor está realmente na crista da onda, vou ver se animo a ler um outro famoso romance em forma de trilogia chamado  1Q84. Aguardemos. 🙂

Tchau, querida democracia

Leonardo Isaac Yarochewsky é professor de Direito Penal há mais de 20 anos. Mestre e doutor em Ciências Penais pela UFMG, foi meu segundo professor de Direito Penal. O primeiro foi o já falecido Jair Leonardo, famoso criminalista mineiro.

Foi o professor Leonardo Isaac Yarochewsky, no entanto, que me despertou para o Direito Penal. Lembro-me com clareza dele falando sobre princí­pios penais constitucionais, sobre a história do Direito Penal. Dava pra perceber sua paixão pelo tema, o que me contagiou. E sou orgulhosa por ter sido elogiada pelo professor por minhas redações e trabalhos. Eu me dedicava, gostava das aulas, de estudar a matéria e a ele sou grata por isso.

Então me senti amparada (o ano de 2016 não foi mole, galera!) quando tomei conhecimento que o professor Leonardo Isaac Yarochewsky dava guarida í s minhas opiniões em relação ao falso impeachment promovido contra a presidenta Dilma.

O livro Tchau, Querida Democracia desnuda a cronologia do golpe de 2016 e grita pela resistência do povo, o que, infelizmente, não foi suficiente para impedir a maldade.

Sua leitura explica o papel da mí­dia no golpe, o machismo que corrompeu a dignidade da então presidenta, os rumos fascistas que o paí­s vem tomando e vários outros tópicos que permearam o processo ilegí­timo. A trajetória do golpe em capí­tulos.

Fiquei satisfeita em ler a carta aberta ao Presidente da OAB, pois o professor é um expoente do Direito e sua voz tem que ser ouvida e respeitada. Até quando teremos que ver uma Ordem de Advogados, que deveria defender intransigentemente a democracia e os direitos fundamentais, compactuar exatamente com o contrário? É vergonhoso.

E o professor Yarochewsky termina a carta (endereçada ao sr. Claudio Lamachia, Presidente í  época da Ordem dos Advogados do Brasil) de maneira fenomenal, pelo que vou me dar o direito de transcrever seu desfecho:

“Tristemente, seu nome ou será esquecido ou será lembrado dentre aqueles que se aliaram as forças conservadoras e autoritárias, a mí­dia reacionária e golpista, aos interesses escusos dos que fazem coro ao impeachment da Presidenta eleita democraticamente em eleições livres e diretas com cerca de 55 milhões de votos. Senhor Presidente, esteja certo que a história não lhe absolverá.”

Comprem e leiam o livro Tchau, Querida Democracia, do professor Leonardo Isaac Yarochewsky. Entenda o golpe e não compactue com o caminho que o paí­s está tomando nas mãos do ForaTemer golpista.

Filhos sem Deus

Filhos sem Deus – Ensinando í  criança um estilo ateu de viver, de Alejandro Rozitchner e Ximena Ianantuoni

Filhos sem Deus é um livro escrito por um casal, em forma de perguntas e respostas, que traz a opinião dos dois autores sobre questões pertinentes ao ateí­smo na criação dos filhos.

Ambos são – obviamente – ateus e, por meio de respostas (cada hora um deles responde a seu modo a mesma pergunta) propõem que se  exponha í s crianças, da forma mais clara possí­vel, o que é o ateí­smo. Para quem ainda tem dúvidas (arg),  eles demonstram como é possí­vel e factí­vel ensinar í s crianças valores educacionais  imprescindí­veis fora de uma cultura religiosa, sendo, principalmente, francos com os pequenos.

Achei interessante. Praticamente tudo do livro já havia sido discutido aqui em casa. Até porque nossos filhos já estão bem espertos o suficiente para captarem que mamãe e papai não pensam como a maioria das pessoas ao nosso redor. Então as perguntas chegam a toda hora e nós precisamos lidar com isso.

De qualquer forma, o livro é uma excelente iniciativa do casal. Não se trata de desqualificar quem crê em Deus, mas de abrir espaço de legitimidade para aqueles que vivem um esquema não compreendido, o ateí­smo!

Luto da famí­lia Silva, de Rubem Braga (1935)

Interessantí­ssimo este conto, quase uma premonição de Rubem Braga dos idos tempos em que Lula foi governante. O encontrei bem sem querer, fuçando os livros numa nossa incursão pela biblioteca pública de BH. As crianças amam o passeio. Ele fica louco com os quadrinhos; ela com todos os livros no geral. Eu, í s vezes cansada dos livros infantis, me distraio com outros, juvenis ou nem tanto.. Sem adentrar no mérito de culpas e responsabilidades, estamos neste momento numa era de trevas. Direitos reduzidos.. Conservadores, religiosos, machistas, misóginos, racistas e homofóbicos no poder. Enfim, o conto volta a ser atual.

Luto da famí­lia Silva  (Rubem Braga)

Assistência foi chamada. Veio tinindo. Um homem estava morto. O  cadáver foi removido para o necrotério. Na seção dos “Fatos Diversos” do Diário  de Pernambuco, leio o nome do sujeito João da Silva. Morava na Rua da Alegria. Morreu de hemoptise.
João da Silva – Neste momento em que seu corpo vai  baixar í  vala comum, nós, seus amigos e seus irmãos, vimos lhe prestar esta homenagem. Nós somos os Joões da silva. Nós somos os populares Joões da Silva. Moramos em várias casas e em várias cidades. Moramos principalmente na rua. Nós  pertencemos, como você, í  famí­lia Silva. Não é uma famí­lia ilustre; nós não temos avós na história.
Muitos de nós usamos outros nomes, para disfarce. No fundo, somos os Silva. Quando o Brasil foi colonizado, nós éramos os degredados. Depois fomos os í­ndios. Depois fomos os negros. Depois fomos imigrantes,  mestiços. Somos os Silva. Algumas pessoas importantes usaram e usam nosso nome.Â É por engano.
Os Silva somos nós. Não temos a mí­nima importância. Trabalhamos andamos pelas ruas e morremos. Saí­mos da vala comum da vida para o mesmo local da morte. í€s vezes, por modéstia, não usamos nosso nome de famí­lia. Usamos o sobrenome de Tal”. A famí­lia Silva e a famí­lia “de Tal” são a mesma famí­lia. E,  para falar a verdade, uma famí­lia que não pode ser considerada boa famí­lia. Até  as mulheres que não são de famí­lia pertencem í  famí­lia Silva. João da  Silva – Nunca nenhum de nós esquecerá seu nome.
Você não possuí­a sangue azul. O  sangue que saí­a de sua boca era vermelho – vermelhinho da silva. Sangue de nossa  famí­lia. Nossa famí­lia, João, vai mal em polí­tica. Sempre por baixo. Nossa famí­lia, entretanto, é que trabalha para os homens importantes. A famí­lia  Crespi, a famí­lia Matarazzo, a famí­lia Guinle, a famí­lia Rocha Miranda, a  famí­lia Pereira Carneiro, todas essas famí­lias assim são sustentadas pela nossa  famí­lia.
Nós auxiliamos várias famí­lias importantes na América do Norte, na Inglaterra, na França, no Japão. A gente de nossa famí­lia trabalha nas plantações de mate, nos pastos, nas fazendas, nas usinas, nas praias, nas fábricas, nas minas, nos balcões, no mata, nas cozinhas, em todo lugar onde se trabalha.
Nossa famí­lia quebra pedra, faz telhas de barro, laça os bois, levanta  os prédios, conduz as bondes, enrola o tapete do circo, enche os porões dos  navios, conta o dinheiro dos Bancos, faz os jornais, serve no Exército e na Marinha. Nossa famí­lia é feito Maria Polaca: faz tudo. Apesar disso, João da Silva, nós temos de enterrar você é mesmo na vala comum. Na vala comum da miséria. Na vala comum da glória, João da Silva. Porque nossa famí­lia um dia há de subir na polí­tica…
(Junho, 1935)

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