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Ronaldo Simões Coelho

Esta é uma história legal, algo que nos aconteceu há mais ou menos um (ou dois) ano (s).

Haví­amos acabado de deixar um parente em casa, no bairro Sion (BH) e depois passamos na drogaria Araújo da av. Uruguai. Era um fim de tarde de domingo e algo grande estava acontecendo na cidade. Talvez fosse um jogo no Mineirão ou Independência. Talvez um show no Mineirinho. Copa do Mundo, será? Não me recordo mais. Só sei que era quase noite e a cidade estava em polvorosa por alguma razão. Por isso, poucos taxis livres no momento.

Meu marido entrou na drogaria e eu fiquei no carro com os meninos. Lá dentro ele percebe um senhor idoso tentando sem sucesso encontrar condução. Consternado, oferece uma carona.

O senhor aceitou de bom grado e veio até o carro, nos cumprimentou e ficou com uma carinha bem satisfeita ao ver as duas crianças conosco. Nos fez várias perguntas e logo logo se apresentou. “Meu nome é Ronaldo Simões Coelho“, sou escritor de livros infantis, psiquiatra com consultório na Savassi, estou voltando da casa de uma filha e não consegui taxi”. A simpatia dele logo nos contagiou e batemos papo até chegar í  sua casa,  um prédio bacana onde, por coincidência, haví­amos olhado um apartamento para comprar alguns meses antes.

Na despedida o senhor Ronaldo pediu nosso endereço e telefone.

Pois bem, qual não foi nossa surpresa na manhã do dia seguinte! Bate a campainha e quem está na porta, com um envelope grande para nos entregar?

Ele mesmo, com a mesma carinha boa de satisfação, o doutor Ronaldo Simões Coelho. Veio até em casa, em sinal de agradecimento, nos presentear com duas de suas obras. Estava indo para o consultório, como faz todas as manhãs,  e fez questão de dar uma parada aqui em casa.

Uma história tão simples deixa de ser tão simples quando moramos em uma cidade como Belo Horizonte. Enorme, tí­mida, arisca. Onde pessoas mal se cumprimentam – pelo menos na região mais central – e pouco se ajudam. Onde caronas para estranhos são quase proibidas. Onde agradecimentos tão gentis são raros. Deixa de ser tão simples quando um dos protagonistas é um senhor de 83/84 anos (hoje com 85) que vai trabalhar em seu consultório rotineiramente, andando a pé por aí­, distraindo-se e distraindo os demais com sua simpatia.

Enfim. Os livros foram muito apreciados. E são apreciados até hoje. Sempre que os pego para ler os meninos relembram a história “do senhor gentil que veio nos trazer os livros”. Um senhor muito gentil sim e também muito interessante. Médico, mais de 50 obras infantis e uma vitalidade de cair o queixo.

Não tenho notí­cias do senhor Ronaldo Simões Coelho, mas sempre nos lembramos dele. Que seu consultório esteja aberto e ele esteja na labuta, escrevendo e clinicando, como pareceu gostar tanto de fazer.

Adendo: assistindo ao documentário Holocausto Brasileiro, já em 2018, descobri que o dr. Ronaldo Simões Coelho foi um dos primeiros psiquiatras a denunciar as atrocidades de Barbacena. Fiquei emocionada.  

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  1. Anny Torres

    Bem a cara do Ronaldo.
    Também gosto muito dele.

  2. Ela

    Infelizmente, o sr. Ronaldo Simões Coelho faleceu no final de 2020. Gostaria de tê-lo encontrado novamente.

  3. Adriano Simões Coelho

    Que história linda, sou filho dele, também psiquiatra. Não havia lido seu relato. Enviei para toda a minha família. Emocionante! Muito obrigado!

    • Ela

      Oi Adriano! Foi muito gratificante pra gente saber que vocês leram a história. Somos sempre gratos por aquele encontro. Um grande abraço!

  4. Danilo Simões Coelho

    Hoje acordei com meu irmão me mostrando o texto de vocês, fiquei emocionado e feliz. Meu pai era mesmo muito especial. Obrigado por essa grata supresa que nos faz sempre lembrarmos dele como ele realmente era.
    Beijo, Danilo.

    • Ela

      Oi Danilo! Nós ficamos muito felizes ao saber que vocês conheceram essa história. Sempre nos lembramos do episódio com muito carinho. Um beijo nosso também!

  5. Lígia M Ferraz

    É uma emoção ler qualquer comentário sobre Dr. Ronaldo Simões Coelho. Sou fã dele há muitos anos, por vários motivos, mas 2 em especial: Extrema simplicidade, é complexo ser simples. E extrema sensibilidade para denunciar um sistema de saúde tão falho e desumano.

    • Ela

      Com certeza, Lígia. Sensibilidade e muita coragem. O que ele fez, no meu entender, é para poucos. Um abraço pra você.

  6. CARMELITA MAGALHAES NUNES

    Chego a ver e ouvir o Professor Ronaldo em toda sua generosidade e humildade, sempre pronto a brindar quem cruzasse seu caminho com sua escuta única, fala sábia numa troca constante.Sou suspeita, por anos tive o privilégio de ser sua aluna na disciplina de História da Medicina na UFMG, aliás uma perola da Escola.
    Obrigada pela partilha desse encontro!
    Viva Ronaldo, mais que presente!

    • Ela

      Um imenso privilégio mesmo, Carmelita, imagino quanta história de vida ele pôde compartilhar com vocês, além do conhecimento. Obrigada por sua visita e comentário. Pessoas como ele estão sempre presentes. Um abraço! 🙂

  7. Marco F. Simoes Coelho

    Belo texto sobre meu (também) pai. Nosso irmão Adriano compartilhou com toda nossa família, revivendo sua lembrança de anos atrás.

    Essa era uma das especialidades do Dr. Ronaldo – tornar o corriqueiro especial. Ele não apenas escrevia histórias, mas as criava por onde passasse. Teve uma vida longa e feliz, tocando e sendo tocado por cada um desses encontros.

    • Ela

      Muito grata e feliz com cada comentário de vocês, Marco. Acho que você tocou no ponto: tornar o corriqueiro especial foi o que nos aconteceu ao cruzar com seu pai. Um grande abraço para todos de sua família!

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